As pesquisas recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que apontaram crescimento de 1% do PIB do país no 1º trimestre de 2017, após oito quedas consecutivas serviram de alento e de esperança de dias melhores na economia do Brasil. Mas pode-se dizer que a crise, realmente, já passou?
O presidente nacional do IBGE, Roberto Olinto, esteve em Santa Maria no 55º Congresso Nacional Sober, e conversou com o Diário sobre esse e outros assuntos. Olinto foi coordenador de Contas Nacionais do IBGE de 2005 a 2014 e, de 2015 até maio, foi diretor de pesquisas do instituto, quando assumiu a presidência.
Diário de Santa Maria – Diante dos últimos dados do IBGE em relação ao PIB e ao desemprego, qual a sua avaliação da situação econômica do Brasil e o que virá pela frente? Estamos em leve retomada?
Roberto Olinto – Primeiro, no IBGE, a gente não fala do futuro, sempre fala do que divulgou. O que temos hoje dos dados do IBGE são indicadores muito estáveis. Estáveis em que sentido? Nós tivemos uma pequena melhora no Produto Interno Bruto divulgado recentemente, basicamente em função do desempenho da agropecuária. E na questão do emprego, divulgado na semana passada, nós tivemos também uma melhora no movimento do emprego por conta própria, entre aspas, a informalidade, de pessoas sem carteira e autônomos, mas todos esses movimentos são muito marginais. Não dá para você dizer que já se configurou uma tendência nas nossas séries de mudança para crescimento, seja no emprego, seja no PIB. Olhando os últimos dois ou três dados disponíveis, podemos dizer que se criou uma estabilidade nos dados e estamos esperando os próximos resultados para ver qual é o sentido que isso vai tomar.
Duas redes de eletrodomésticos vão abrir filiais no novo shopping
Diário – Parou de piorar?
Olinto – Com certeza, todas as séries tiveram um movimento onde você não está mais observando uma tendência de queda e sim, de estabilidade. Você não sabe ainda se é um suspiro (de melhora) ou efetivamente uma reversão (da crise). Vai necessitar dos próximos dados, mas sem dúvida nenhuma, nos últimos dados, como você disse, parou de piorar.
Diário – Nos dados divulgados na sexta, sobre o desemprego, o IBGE apontou que foi mais em função do aumento dos empregos informais. Por quê?
Olinto – A dinâmica do emprego nesse caso, particularmente, é que, quando você emprega formalmente, está empregando e assumindo todos os encargos formais. Quando você parte para isso, é que ele é necessário para um período longo. Quando você está trabalhando no crescimento dos ¿por conta própria¿ ou dos sem carteira, é como se você tivesse sentido algum tipo de necessidade de pessoal, no caso dos sem carteira, mas que você ainda não está vislumbrando uma necessidade de formalizar, para não ter mais encargos. Já quando as pessoas começam a trabalhar como autônomos, elas estão decididas a trabalhar por conta, abrindo seu negócio.
Diário – Às vezes porque foram empurradas ao desemprego.
Olinto – Também. Mas isso a gente não consegue identificar nas pesquisas, nesse nível de detalhe. A pesquisa é mais um sinal onde você tem de observar, ou via outros indicadores ou via outras pesquisas, como esta composição do emprego formal e dos ¿por conta própria¿ vai se comportar futuramente.
Diário – Como o IBGE identifica esse emprego informal?
Olinto – É autodeclaração. A PNAD, que é pesquisa domiciliar, ela vai até o informante do domicílio, e ele, ao responder as perguntas, diz se está trabalhando, se tem carteira assinada ou não. É declaração dele. A gente não induz nada. É a impressão que ele tem sobre a condição de trabalho dele.
Santa Maria tem a 28ª gasolina mais cara do Estado
Diário – Eles podem estar trabalhando irregularmente?
Olinto – Isso não nos importa. Até porque criaria um problema na resposta ao se questionar se ele está regular ou irregular. A pergunta é só o tipo de emprego. A pessoa se sentiria constrangida e não responder corretamente.
Diário – Como os cortes do Orçamento atingiram o IBGE e afetaram as pesquisas?
Olinto – Nós não tivemos cortes no Orçamento do IBGE como um todo. Nesse ano, todas as nossas pesquisas estão sendo feitas. Tivemos reposição de pessoal ainda não ideal, mas não afetou as pesquisas. Precisamos de gente para reposição de aposentadorias futuras e para ampliar nosso trabalho. Temos várias demandas de pesquisas novas na área de meio ambiente.
Os objetivos de desenvolvimento sustentável estão colocando um desafio para os institutos de estatística de termos novos dados. A única questão que estamos discutindo é o Censo Agropecuário, que é um orçamento específico.
Com índice de correção de aluguéis fechando no negativo, como ficará a renovação de contratos?
O censo vai a campo em outubro, com um orçamento que é um pouco mais da metade do solicitado. O valor pedido de R$ 1,6 bilhão não foi disponibilidade, e foram conseguidos, via verba parlamentar, R$ 500 milhões para este ano e vamos necessitar de R$ 200 milhões em 2018. Esse orçamento permitiu fazer um censo no Brasil inteiro, mas com um questionário em que questões de detalhes foram retiradas e que o prazo de coleta passou de três para cinco meses para que fosse viabilizado.